Apresentação do projecto


Lampedusa
um espectáculo de teatro documental


Um projecto de Susana C. Gaspar
Com produção de Utopia Teatro


SINOPSE

«Não sei quantos éramos, talvez 280, 300. Havia 40 mulheres, oito delas somalis, como eu.» Disse Asha Omer, grávida, de 21 anos, que se salvou porque o marido a agarrou pelo cabelo.

Desde Janeiro de 2011, mais de 40 mil imigrantes clandestinos venceram as costas de Lampedusa fugindo da guerra e da pobreza. Chegam em pequenas embarcações amontoadas de gente, sem água, sem comida, a esta ilha do sul de Itália com apenas 6 mil habitantes autóctones. As reacções desencadeadas perante as crescentes notícias sobre naufrágios, o consequente número de mortos, repatriações, histórias incríveis de sobrevivência, constituem o nosso material de trabalho, necessariamente enformado pela visão crítica de cidadãos de uma Europa que brilha aos olhos de quem parte de África. Cruzando diferentes narrativas sobre a ilha (nomeadamente um nosso, in loco, Diário de Viagem a Lampedusa), propomos uma reflexão performativa sobre alguns conceitos tangenciais a este tema: identidade, território e fronteiras.




APRESENTAÇÃO
Lampedusa é um projecto de teatro que tem como ponto de partida uma reflexão em torno das recentes e constantes notícias de barcos clandestinos que vêm naufragando ao largo da paradisíaca ilha italiana, conhecida como "Porta da Europa". Projecto alicerçado numa dramaturgia que elege a reflexão sobre conceitos como “Identidade” e “Fronteiras”, e que reconstrói os diversos pontos de vista do envolvimento da União Europeia, e outras autoridades, sobre este caso, desde o acolhimento à recusa de refugiados e imigrantes. É através da criação artística que, de forma interdisciplinar, reuniremos as questões e metáforas necessárias ao debate deste tema, acendendo um rastilho para a sua discussão.


DO PONTO DE PARTIDA

O nosso olhar sobre a ilha de Lampedusa e este tema em específico far-nos-á reflectir sobre as questões que nós, Portugueses, Europeus e Mediterrânicos, também colocamos quando somos confrontados com a imigração, com os desequilíbrios sociais que nos rodeiam, e, sobretudo, quando conhecemos narrativas que relatam a dureza das fronteiras, no mar ou na terra. É este o tema maior, indiscutivelmente universal, que atravessa todo o projecto: Fronteiras. É assim que o nosso espectáculo viverá também de mapas. Mapas como hipertextos essenciais, sendo a cartografia apresentada como um ponto fulcral da nossa dramaturgia. A fronteira de Itália, do mar Mediterrâneo, da Europa, de África, da Península Ibérica. Onde nos encontramos? Quem somos? Que direitos temos e/ou perdemos quando atravessamos um continente? Do mar como campo de batalha.

Este projecto é, por consequência, intrinsecamente documental, vivendo do auxílio de documentos factuais recolhidos sobre a ilha, bem como das questões que a própria equipa criativa coloca sobre o tema. Não abandonaremos, no entanto, nem a ficção, nem a provocação, elementos necessários aos exercícios de imaginação que estão também inevitavelmente ligados à necessidade de melhor compreensão dos eventos.
Ambicionando uma construção teatral inspirada nos pressupostos de Piscator, procuramos, para este espectáculo, uma realidade que coloca a tensão em confronto com a poesia, ambas brotam das mesmas poderosas emoções e são ligadas por uma mesma condição: são realidades políticas (no sentido fundamental de “dizer respeito a todos”.) 

É assim objectivo que actores e espectadores possam passar, (ainda que por breves momentos), pelo Lugar do Outro, defrontando-se com a realidade dos imigrantes clandestinos, as suas situações de vida e dos seus países, mas, também, e necessariamente, com a dos habitantes de Lampedusa, agora obrigados a partilhar o seu pequeno pedaço de terra. Aqui iniciamos uma das procuras pela raiz do problema: por que estão estas pessoas a fugir dos seus países e que “juízos” fazem os “nossos” políticos? 

Não impondo nenhum ponto de vista, mas sim expondo o maior número de perspectivas possível, caberá ao espectador sentir-se ou não no Lugar do Outro, assimilando o que lhe é apresentado. Um misto de emoções e contradições nos corpos dos actores, nos objectos, no cenário, nas imagens projectadas. A sensação de querer abraçar tudo (o acolher) ou de abater tudo (o expulsar). Lampedusa viverá de vida, o texto é corpo e os corpos são textos, sendo a linguagem corporal e a procura de signos comuns e legíveis a primazia neste espectáculo. Por tudo isso, Lampedusa terá tanto de político como de documental, da poesia e do seu avesso, pois, só assim, poderá dizer respeito a todos.






Entrevista de Susana C. Gaspar à TSF: http://www.tsf.pt/PaginaInicial/AudioeVideo.aspx?content_id=2317299